Como a tecnologia contribui para a investigação internacional?
O cenário global contemporâneo é marcado por um aumento significativo da criminalidade transnacional, cujas redes complexas e operações sofisticadas ultrapassam as fronteiras nacionais, representando um desafio crescente para a segurança e a justiça em todo o mundo.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o crime transnacional movimenta uma indústria bilionária, fomentando tráfico de drogas, tráfico de pessoas, contrabando de armas, lavagem de dinheiro e outros crimes que desestabilizam economias, alimentam a corrupção e ameaçam os direitos humanos.
Para enfrentar esse cenário, foi criada a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), que estabelece um marco jurídico internacional para que os países cooperem no combate a essas organizações, incluindo protocolos específicos contra tráfico de pessoas, contrabando de migrantes e tráfico ilícito de armas.
Nesse contexto, a tecnologia se torna uma aliada fundamental para aprimorar a investigação internacional, oferecendo ferramentas e soluções que superam as limitações geográficas, permitindo uma atuação mais eficaz contra essas ameaças globais.
A tecnologia desempenha um papel cada vez mais relevante ao facilitar a coleta de dados relevantes em múltiplas jurisdições, ajudando a desmantelar organizações criminosas transnacionais e rastrear seus ativos ilícitos.
Ferramentas que permitem o compartilhamento seguro de informações, a análise de dados digitais transfronteiriços e o uso de inteligência de código aberto (OSINT) em escala global são apenas alguns exemplos de como a tecnologia está transformando a maneira como as agências cooperam e conduzem investigações internacionais.
Ao longo deste artigo, exploraremos como essas tecnologias estão sendo aplicadas no combate a crimes como o tráfico de drogas, o terrorismo e a lavagem de dinheiro, e como a interoperabilidade tecnológica entre agências de diferentes nações é vital para o sucesso das investigações globais. Acompanhe!
O cenário da criminalidade transnacional e a urgência da cooperação tecnológica
A complexidade inerente aos crimes internacionais representa um desafio formidável para as agências de segurança em escala global. Suas operações frequentemente envolvem intrincadas redes que se estendem por diversos países, aproveitando-se de diferentes legislações, sistemas judiciais e fronteiras geográficas para dificultar a detecção, a investigação e a responsabilização.
Crimes como o tráfico de drogas, o terrorismo e a lavagem de dinheiro exploram as brechas nas leis nacionais e a falta de coordenação internacional para perpetuar suas atividades ilícitas.
Essa natureza transnacional exige, portanto, uma abordagem investigativa que ultrapasse as limitações impostas pelas fronteiras físicas e pelas jurisdições legais distintas, demandando ferramentas e estratégias que permitam a coleta de evidências e a colaboração além das fronteiras.
Nesse contexto complexo, a tecnologia se estabeleceu como um elo essencial na investigação internacional, oferecendo soluções que antes eram inimagináveis. Ferramentas de comunicação segura, plataformas de compartilhamento de informações criptografadas e softwares de análise de dados com capacidade de integrar informações de diversas fontes globais permitem que agências de diferentes países trabalhem em conjunto de maneira mais eficiente e coordenada.
A capacidade de rastrear fluxos financeiros ilícitos por meio de sistemas bancários internacionais, analisar grandes volumes de dados de comunicação e identificar padrões suspeitos em escala global são apenas alguns exemplos de como a tecnologia se tornou indispensável para desmantelar organizações criminosas transnacionais e levar seus membros à justiça.
Ferramentas tecnológicas para coleta de dados em múltiplas jurisdições
Plataformas como o Cellebrite Guardian permitem compartilhamento seguro de informações e facilitam a troca de dados sensíveis entre agências de diferentes países engajadas em investigações internacionais.
Essa plataforma é projetada com foco na segurança, utilizando criptografia de ponta para proteger as informações transmitidas contra acesso não autorizado. Protocolos de segurança de alto nível garantem a autenticidade e a integridade dos dados, permitindo que as agências confiem nas informações compartilhadas.
Já as ferramentas de Inteligência de Código Aberto (OSINT), como o Cellebrite Smartseach oferecem uma abordagem homogênea para a coleta de informações publicamente disponíveis em diversas fontes globais, auxiliando significativamente em investigações internacionais.
A OSINT permite que analistas e investigadores rastreiem atividades ilícitas, identifiquem suspeitos e obtenham informações contextuais importantes a partir de dados acessíveis na internet, em redes sociais, em registros públicos e em outras fontes abertas.
As aplicações da OSINT são vastas, desde o monitoramento de grupos extremistas online até o rastreamento de fluxos financeiros suspeitos e a identificação de indivíduos envolvidos em atividades criminosas transfronteiriças, fornecendo um panorama informacional que complementa outras formas de coleta de evidências.
Softwares de análise forense digital reconhecidos e usados por forças de lei de todo o mundo, como o Cellebrite Inseyets, oferecem capacidade de padronização para investigações transfronteiriças essenciais para lidar com a complexidade das evidências digitais em investigações que abrangem diferentes jurisdições.
Essas ferramentas permitem a análise de dados coletados em diversos países, respeitando as leis e os regulamentos locais de cada jurisdição em relação à coleta e ao tratamento de evidências digitais.
A interoperabilidade tecnológica: resolução de crimes globais
A interoperabilidade tecnológica entre agências internacionais está associada à capacidade de diferentes sistemas, softwares e plataformas utilizados por essas agências, mesmo que desenvolvidos por diferentes fornecedores ou países, de se comunicarem, trocarem informações e utilizarem os dados de forma segura.
Essa capacidade vai além da simples troca de dados, envolvendo a garantia de que a informação compartilhada seja compreendida no mesmo contexto e possa ser utilizada para ações coordenadas no combate ao crime global.
No entanto, a implementação da interoperabilidade enfrenta desafios significativos, como as diferenças nos sistemas legados já em uso por cada agência, a falta de padronização em protocolos de comunicação e formatos de dados, e as barreiras legais e regulatórias distintas em cada jurisdição, que podem restringir o compartilhamento de certas informações.
A superação desses desafios requer um esforço concertado em direção à padronização de formatos de dados e protocolos de comunicação em nível global.
A definição e a adoção de padrões internacionais facilitam a troca e a análise de informações, permitindo que diferentes sistemas interpretem os dados de maneira consistente e eficiente.
Iniciativas internacionais, como as lideradas por organizações como a Interpol e a Nações Unidas, buscam promover essa padronização através de diretrizes, acordos e plataformas comuns.
Adicionalmente, o desenvolvimento de Interfaces de Programação de Aplicações (APIs) e integrações entre sistemas existentes é decisivo para permitir que diferentes plataformas de agências se comuniquem, atuando como pontes tecnológicas que facilitam o fluxo de informações.
Exemplos bem-sucedidos em investigações internacionais, como a Operação Trojan Shield (2018-2021), demonstram como a interoperabilidade, promovida por padrões e APIs, pode agilizar a identificação de suspeitos, o rastreamento de ativos ilícitos e a coordenação de operações conjuntas em escala global.
Essa operação conjunta do FBI, Europol, Australian Federal Police e diversas polícias nacionais envolveu a criação de um app de mensagens criptografadas (ANOM) que continha backdoor para capturar comunicações entre criminosos. Graças à integração segura de APIs e sistemas de inteligência entre pelo menos 16 países, foi possível interceptar milhões de mensagens, resultando em mais de 1 100 prisões e apreensão de toneladas de drogas em múltiplos continentes. A interoperabilidade foi crucial para viabilizar o fluxo de dados entre agências em tempo real.
Impacto da tecnologia no combate a crimes específicos em nível internacional
No combate ao tráfico de drogas em nível internacional, a tecnologia oferece ferramentas que permitem rastrear rotas de transporte, muitas vezes complexas e transnacionais, por meio da análise de dados de localização, imagens de satélite e informações de inteligência.
A análise de comunicações criptografadas, utilizando softwares avançados de quebra de códigos e análise de metadados, permite identificar redes de comunicação entre traficantes e desmantelar suas operações.
Ainda, a identificação de redes financeiras ligadas ao tráfico é facilitada pelo rastreamento de transações bancárias suspeitas, análise de fluxos de dinheiro e identificação de contas em paraísos fiscais, permitindo a apreensão de ativos e a desarticulação econômica dessas organizações criminosas.
No enfrentamento ao terrorismo internacional, a tecnologia desempenha um papel vital no monitoramento de atividades online, onde grupos terroristas frequentemente disseminam propaganda, recrutam novos membros e planejam ataques.
Ferramentas de análise de linguagem natural e inteligência artificial auxiliam na identificação de conteúdo extremista, na detecção de padrões de comunicação e no rastreamento de indivíduos e grupos com potencial terrorista.
O rastreamento de financiamento do terrorismo também é aprimorado pela análise de transações financeiras, incluindo o uso de criptomoedas e sistemas de remessa informais, buscando identificar as fontes de recursos e interromper o fluxo de fundos para atividades terroristas em escala global.
Quanto à lavagem de dinheiro em nível internacional, a tecnologia é fundamental para rastrear os fluxos financeiros ilícitos que buscam ocultar a origem criminosa de grandes somas de dinheiro.
Softwares de análise de transações complexas podem identificar padrões suspeitos e anomalias em vastos conjuntos de dados financeiros, revelando esquemas de lavagem que envolvem múltiplas jurisdições e instrumentos financeiros.
A identificação de paraísos fiscais e de empresas de fachada utilizadas para ocultar a propriedade de ativos ilícitos é facilitada por ferramentas de análise de dados corporativos e registros financeiros internacionais, permitindo que as autoridades rastreiem o caminho do dinheiro sujo e recuperem ativos em diferentes países.
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É inquestionável o papel da tecnologia como mecanismo de suporte em investigações internacionais, oferecendo ferramentas poderosas para superar barreiras geográficas e legais no combate a crimes transnacionais como tráfico de drogas, terrorismo e lavagem de dinheiro. A sua capacidade de coletar dados em múltiplas jurisdições, aliada à crescente interoperabilidade tecnológica entre agências de diferentes nações, promove o ganho de eficácia das investigações globais, permitindo rastrear rotas ilícitas, analisar comunicações criptografadas, monitorar atividades online, rastrear fluxos financeiros e, em última instância, fortalecer a cooperação internacional em prol da segurança e da justiça globais.
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